O bar que conquistou Botafogo e se tornou sinônimo de cultura carioca
Na esquina das ruas Visconde de Caravelas e Capitão Salomão, em Botafogo, existe um bar que, apesar de seu tamanho modesto, se tornou um gigante cultural: o Fuska. Fundado em 1991 pelo português Jaime, o bar foi, ao longo dos anos, se consolidando como um dos pontos mais queridos da Zona Sul do Rio de Janeiro. Mas foi quando seu filho, Luiz Fernando dos Santos Ferreira, assumiu as rédeas do negócio, em 2015, que o Fuska se reinventou e se transformou no verdadeiro coração cultural de Botafogo. Sob a visão de Luiz, o bar passou a ser mais do que um lugar para tomar uma cerveja gelada – ele se tornou um espaço de encontros e trocas, com programação musical diversificada e eventos que fazem a calçada de Fuska transbordar de vida.
Com apenas 25 anos na época, Luiz enfrentou o desafio de resgatar e modernizar o bar de seu pai. Sem experiência prévia no setor, mas com uma enorme paixão por cultura e criatividade, ele transformou o Fuska em um centro cultural, sempre repleto de rodas de samba, forró e até espetáculos teatrais. Ele não só revitalizou o bar, mas também ajudou a revitalizar a área, fazendo com que a movimentação cultural atraísse mais bares e estabelecimentos para o entorno.
Hoje, o Fuska é um dos bares mais autênticos da cidade, com uma história de superação e reinvenção que se reflete em cada prato servido, em cada música tocada e, claro, na energia vibrante que se sente no ar. Luiz continua sendo o motor por trás dessa transformação, dedicando-se à administração, à programação cultural e ao contato constante com seu público. Em sua visão, ser empreendedor vai além de gerenciar um negócio – é levar alegria às pessoas, e fazer com que o Fuska continue sendo um símbolo de hospitalidade e cultura carioca.
Nesta entrevista, Luiz compartilha os desafios e as vitórias que moldaram a trajetória do Fuska e como ele enxerga o futuro do bar e da cultura de Botafogo. Prepare-se para uma história inspiradora de dedicação, criatividade e amor pela cidade. O Fuska não é apenas um bar, é um pedaço da alma do Rio.
VAM: Luiz, a transição do bar “Encontro dos Amigos” para o FUSKA foi um momento decisivo. O que motivou essa mudança e quais expectativas você tinha quando assumiu a administração do bar?
Na verdade, o bar sempre foi o FUSKA Bar; a razão social é Fuska Bar. Na época, meu pai tinha uma parceria com uma empresa de cerveja e colocou a placa “Bar, Encontro e Amigos.” Eu não via muito sentido nisso, mas a placa também é muito significativa, pois marca uma época diferente. Foi logo depois que meu pai faleceu que eu criei uma nova logo, obviamente o bar não tinha, usando outra placa e outro nome. Essa logo foi importante para divulgar e consolidar a marca do bar. Quando entrei, eu não tinha expectativa nenhuma. Minha ideia era apenas ajudar o bar a sair da situação em que se encontrava e depois voltar às minhas atividades com fotografia e faculdade. Acabou dando certo, e eu fui ficando.
VAM: Durante os primeiros anos de gestão, quais foram os desafios mais significativos que você enfrentou e como você superou esses obstáculos, Luiz?
O primeiro ano foi bem desafiador, principalmente por causa da morte do meu pai. Muitas responsabilidades caíram sobre mim, e precisei resolver e entender várias coisas na marra. Trabalhei mais de 20 horas por dia, abrindo e fechando o bar, abastecendo e vendendo. Foi um período difícil, mas também de muito aprendizado, passando por todas as áreas do bar.
VAM: Você mencionou que implementou diversas mudanças. Pode compartilhar quais ações específicas resultaram em um aumento de clientes e engajamento na comunidade?
A primeira mudança importante foi a introdução da maquininha de cartão. Parece simples, mas em 2015-2016, ainda não tínhamos isso e o único pagamento era em dinheiro, pois meu pai era relutante em aceitar cartões. Aos poucos, fui insistindo até conseguir. Depois disso, outras mudanças vieram, como música ao vivo e apoio a peças de teatro, transformando o bar de um boteco simples em um bar cultural.
VAM: Como você, Luiz, descreveria a evolução do Fuska em termos de identidade e cultura desde a sua fundação? Que papel a programação cultural teve nesse processo?
O papel da programação cultural é enorme na identidade do FUSKA. No entanto, o que eu realmente queria era dar valor à cultura e torná-la mais acessível para as pessoas. Isso inclui não só a música, mas também o apoio a peças de teatro, sorteios de ingressos e até apresentações gratuitas na rua. Acho que a cultura realmente faz parte da identidade do FUSKA.
VAM: A apresentação do grupo Samba Que Elas Querem em 2018 foi um marco. Luiz, como esse evento mudou a percepção do Fuska na comunidade e qual foi seu impacto nos negócios?
Esse foi um dia especial, com mais de mil pessoas na rua, e a cerveja acabou em todos os bares. Foi um evento incrível, marcado pela parceria com um grupo de samba em ascensão e com a loja de uma amiga, a Mônica. Juntos, conseguimos fazer algo memorável para o público.
VAM: Luiz, seu pai, Jaime, teve um papel fundamental na fundação do bar. Quais ensinamentos ou características dele você considera que influenciaram sua abordagem no gerenciamento do Fuska?
Aprendi muito com meu pai, mas também defini o que eu não queria seguir. Ele vivia exclusivamente para o trabalho e passava todo o tempo no bar. Hoje, tento manter uma organização que me permita ter uma vida fora do bar. Além disso, meu pai bebia no bar, e eu prefiro evitar, para manter a seriedade no ambiente de trabalho.
VAM: Luiz, crescer em um ambiente de negócios familiares traz muitos aprendizados. Quais lições de vida você aprendeu ao longo do tempo e como elas impactaram sua visão sobre empreendedorismo?
Como comecei em uma situação desafiadora, assumindo um bar que estava falindo, vejo o empreendedorismo de uma forma diferente. Não foi só investir dinheiro; trabalhei em todas as funções, desde limpar o banheiro até servir mesas. Acredito que essa vivência me deu uma visão única sobre empreender.
VAM: Luiz, como a história da sua família e as tradições que você herda influenciam a maneira como você se conecta com seus clientes e a comunidade local?
Minhas experiências e herança familiar influenciam o FUSKA, especialmente no jeito de lidar com as pessoas. Transformamos o FUSKA em uma grande família, e nossos clientes se sentem em casa. Muitos vêm de quarta a domingo e se consideram parte dessa família.
VAM: Luiz, você pode compartilhar um momento ou uma história que exemplifique a conexão entre o Fuska e a sua família, mostrando como essa relação contribuiu para o sucesso do bar?
A maior conexão entre o FUSKA e minha família aconteceu quando meu pai faleceu. Organizamos um evento em sua homenagem, com uma música especial, “Espelho.” Foi um dia muito bonito, com todos os clientes presentes para prestar suas homenagens.
VAM: Luiz, com as festas de final de ano se aproximando, quais iniciativas e eventos especiais você planeja para criar uma atmosfera única no Fuska?
Estamos trazendo de volta algumas tradições, como o samba de quinta-feira e o grupo Grapiúna, um dos mais renomados de choro do Rio. Também incluímos a feijoada aos domingos, o que tem sido um sucesso.
VAM: Luiz, o que você está considerando para 2025 em termos de inovações, novos eventos ou parcerias que possam enriquecer a programação cultural do bar?
Para 2025, planejamos a primeira grande reforma desde que entrei. Além disso, vamos trazer eventos culturais variados, incluindo poesia e outras formas de arte. Muitas novidades estão a caminho!
VAM: Luiz, quais são as especialidades do cardápio que refletem a identidade do Fuska e que você acredita que criam uma conexão emocional com os clientes?
Nossa feijoada está cada vez mais forte e consolidada como um evento diurno no sábado e domingo, atendendo a um público que prefere aproveitar o dia. À noite, os pastéis de costelinha e de camarão são os favoritos.
VAM: Luiz, se você pudesse destacar um prato que representa não apenas o Fuska, mas também a sua história familiar e suas tradições, qual seria e por quê?
Sem dúvida, o prato que representa o FUSKA e minha família é o bolinho de bacalhau, feito com a receita especial do meu pai, que era português. Esse prato conecta o bar à minha herança familiar de uma maneira única.
Créditos:
Fotos: VINÍCIUS MOCHIZUKI
Entrevista: ANTONNIO ITALIANO
Direção de estúdio: RODRIGO RODRIGUES
Edição de moda: ALÊ DUPRAT
Produção de moda: KADÚ NUNNES
Ass. de imprensa: EQUIPE D COMUNICAÇÃO
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