Na capa deste mês, trazemos uma entrevista especial com o gigante João Côrtes, que, ao longo de sua carreira, vem se destacando em diversas áreas como ator, diretor, roteirista, músico e produtor. Com uma trajetória artística que se estende por mais de 11 anos, João nos conduz por uma jornada de autoconhecimento e transformação, explorando como a arte molda sua essência e impacta aqueles ao seu redor.
A entrevista revela momentos marcantes de sua carreira e reflexões sobre temas profundos. João compartilha como o feedback do público o incentivou desde o início, mencionando o impacto de seu personagem icônico: "Logo nos primeiros anos de carreira, ficou evidente o quanto as pessoas se identificavam com meu trabalho". Ele também reflete sobre sua pluralidade criativa e como essa diversidade enriquece sua visão sobre a arte e seu papel transformador na sociedade: "A arte tem uma capacidade incrível de dialogar com diferentes públicos e gerar reflexões de diversas formas".
No teatro, ele mergulhou em temas emocionais intensos com o monólogo "Invisível", abordando questões de abuso em relacionamentos: "Expor a fragilidade humana em cena é um ato poderoso. A vulnerabilidade é, na verdade, uma força". Além disso, João revela como sua experiência interpretando um soldado nazista em “Passaporte para Liberdade” o fez refletir profundamente sobre o lado sombrio da humanidade: "É importante entender o potencial que a humanidade tem para a luz, mas também para a sombra".
Outro destaque da entrevista é sua conexão com a moda, onde João fala sobre sua escolha por um estilo pessoal agênero e como isso reflete em sua jornada de autodescoberta: "A moda é uma forma de me conectar com minha verdade, rompendo com expectativas e moldes tradicionais".
Os leitores também terão a oportunidade de conhecer mais sobre sua busca por novos desafios e sua vontade de explorar gêneros ainda não abordados em sua carreira, como o suspense: "Tenho muita vontade de me explorar mais no drama e descobrir esse lugar no thriller". Essa entrevista promete uma imersão profunda nas nuances da carreira de João Côrtes, oferecendo aos leitores da VAM Magazine uma visão íntima e inspiradora de sua jornada artística. Leia a seguir!
Entrevista com João Côrtes:
VAM: Celebrando a metamorfose de uma super carreira, João, você já se permitiu vivenciar inúmeras transformações ao longo desses 11 anos. Em sua jornada, qual foi aquele instante em que percebeu que sua arte não apenas moldava sua essência, mas reverberava intensamente nas vidas daqueles que o cercam? Eu acho que uma coisa está muito atrelada a outra, de alguma forma. Eu acredito muito nisso de que o ator, o artista de uma maneira geral faz pra si mesmo em um processo de autodescoberta, mas ele também faz para o outro. Tem um lugar do artista que é muito para o outro, de performar para o outro, para a plateia. Então, eu acho que logo no início da minha carreira ficou muito evidente o quanto as pessoas se identificavam com meu trabalho ou me reconheciam por ele, o quanto que o meu trabalho afetava as pessoas e chegava nelas. Eu entendi isso cedo.
Por exemplo, logo no início, o personagem do ruivo da Vivo reverberou muito. Nos primeiros três anos de carreira já tive essa experiência muito intensa dessa resposta do público, desse feedback imediato. De quanto trazia alegria e euforia, o quanto as pessoas se identificavam com aquele personagem e se divertiam. Eu ouvia o relato das pessoas nas ruas. Isso é muito bacana, é um incentivo, um combustível para nós atores.
VAM: A sua trajetória artística, repleta de nuances como ator, diretor, roteirista, produtor e músico, reflete uma diversidade rica e vibrante. Como você acredita que essa pluralidade criativa entrelaça sua visão sobre a arte e o papel transformador que ela desempenha na sociedade contemporânea? Essa pluralidade criativa sempre foi algo muito presente na minha trajetória. Cada área que desempenho, seja como ator, cantor, diretor, roteirista, produtor, me oferece uma perspectiva única sobre como contar histórias e expressar emoções. Isso me fez perceber que a arte tem uma capacidade incrível de dialogar com diferentes públicos e gerar reflexões de diversas formas.
Na sociedade, com tantas vozes e realidades coexistindo, acho essencial que a arte abrace essa diversidade. Ela pode ser um espelho, um catalisador de mudanças e, ao mesmo tempo, um lugar de acolhimento. Cada projeto que faço carrega a intenção de conectar, provocar e inspirar. É exatamente essa pluralidade que traz a força transformadora da arte.
VAM: No profundo monólogo “Invisível”, você se lança em temas densos e emocionalmente complexos, abordando questões como o abuso em relacionamentos. De que forma essa experiência moldou sua percepção sobre vulnerabilidade e empatia, tanto em sua vida pessoal quanto na sua expressão artística? Não chegou a mudar minha percepção sobre vulnerabilidade e empatia porque são coisas que sempre estiveram presentes, busco ter esse olhar empático com todos que me cercam. Mas estar no palco com o monólogo “Invisível” foi uma experiência muito densa e transformadora pra mim, tanto pessoal quanto artisticamente. Mergulhar em temas como o abuso em relacionamentos homoafetivos e poder falar sobre isso me fez confrontar o peso de histórias que muitas vezes são silenciadas, mas que precisam ser ouvidas.
Como ator, percebi que expor a fragilidade humana em cena é um ato poderoso. A vulnerabilidade, que muitas vezes associamos à fraqueza, é na verdade uma força. Quando me permito ser vulnerável no palco ou diante das câmeras, estou abrindo um espaço para o público se conectar, para que eles sintam, questionem e, talvez, reconheçam partes de si mesmos naquelas histórias.
Arte é, em grande parte, sobre isso: usar nossa vulnerabilidade para construir pontes de empatia e trazer à tona o que é, muitas vezes, invisível na sociedade.
VAM: Em “Passaporte para Liberdade”, você enfrentou o intenso desafio de interpretar um soldado nazista em inglês, lidando com um sotaque alemão. Como foi o processo mental e emocional de se desconectar de um papel tão pesado após as gravações? Quais ensinamentos você extrai desse mergulho em uma situação tão extrema? No caso do “Passaporte para Liberdade”, eu tive uma participação muito intensa e pesada, mas também curta. Eu tive dois dias de gravação, porque, apesar de ser um monólogo e uma cena extensa, era em um episódio. Por isso, eu não habitei o personagem por muito tempo, o que foi bom. Então, eu fiquei mais tempo me preparando pra ele, habitando esse universo da 2ª Guerra Mundial e estudando esse contexto para entregar.
Eu acho que o que me ajuda nesse processo de desconectar de algo é estar com a minha família, com as pessoas que eu amo, voltar para as minhas raízes. Cuidar da saúde mental também é importante, eu faço terapia, meditação, exercícios. Eu sempre tento encontrar maneiras de despressurizar.
No meu processo de pesquisa para esse personagem, eu lembro de ficar muito chocado com as coisas que eu descobri sobre a 2ª Guerra, sobre os soldados, coisas horrorosas que a humanidade atravessou nesse período tão obscuro. Então, eu acho que o ensinamento que fica é que nós precisamos estar alertas para não repetir essas tragédias. O quanto é triste que nós continuemos a cair em lugares assim, repetindo esses padrões. É importante entender o potencial que a humanidade tem para a luz, mas também para a sombra.
VAM: Sua escolha por um estilo pessoal autêntico e agênero, utilizando a moda como meio de expressão artística, é notável. Como essa relação com a moda se entrelaça com sua jornada de autodescoberta, influenciando tanto sua performance quanto sua identidade artística? A moda sempre foi uma forma de expressão poderosa pra mim, e quando comecei a adotar um estilo agênero, isso se tornou uma extensão natural da minha jornada de autodescoberta. Eu vejo a moda como uma ferramenta para me conectar com a minha verdade, rompendo com expectativas e moldes tradicionais. Escolher peças que transcendem gêneros é uma forma de dizer que não há limites para quem podemos ser, e isso reflete diretamente na minha expressão artística.
No fim das contas, tanto na moda quanto na arte, busco explorar e celebrar a fluidez da identidade, sempre aberto à transformação e ao novo.
VAM: João, você iniciou sua carreira jovem e rapidamente conquistou o sucesso, enfrentando rótulos e expectativas. Como foi a trajetória para quebrar esses estigmas iniciais e evoluir para um artista mais maduro e multifacetado aos olhos do público e da indústria? Desde o começo da minha carreira, enfrentei alguns rótulos, especialmente por ter começado jovem, atuando em publicidade e com papéis mais leves, ligados ao humor. Houve uma expectativa natural de que eu me encaixasse nesse perfil de forma permanente, mas, pra mim, a arte sempre foi um espaço de exploração e transformação. Apesar de adorar fazer humor, entendi que teria que quebrar essas barreiras e me desafiar. Buscar personagens que exigissem muito de mim, tanto emocionalmente quanto tecnicamente, me ajudou nesse processo.
Além disso, expandir meu trabalho para outras áreas foi fundamental para essa transição. Quero me reinventar e estar disposto a questionar a própria arte e o meu lugar no mundo.
VAM: Em projetos independentes, como “Nas Mãos de Quem Me Leva”, você teve total controle criativo. O que o motiva a buscar essa liberdade na produção, e quais lições você traz desses projetos menores para grandes produções? Estar à frente de um filme, como diretor e roteirista, foi uma experiência nova e única pra mim. Super intensa. Eu sempre gostei muito de escrever, desde pequeno. Porém, só em 2018 criei coragem para escrever um roteiro. Foram oito meses escrevendo, desenvolvendo aquela história, criando e construindo personagens e universos, costurando as narrativas. Me apaixonei pelo processo! Produzimos um longa 100% independente, foi um grande desafio. Eu aprendi muito, sobretudo a liderar uma equipe, ser capaz de tomar decisões rápidas, confiar em si mesmo e nas pessoas a sua volta.
Mas, talvez, mais importante de todos esses aprendizados, entendi que o amor à arte é essencial. Esse amor é o meu combustível. Me senti conectado e livre como nunca antes. Digo que dirigir me fez um ator melhor. Me trouxe perspectiva e aguçou a minha sensibilidade.
VAM: Você já mencionou que gosta de explorar fora da sua zona de conforto. Existe algum papel ou gênero artístico que ainda não abordou, mas que acredita que o desafiaria profundamente e o elevaria a um novo patamar como artista? Eu adorei essa pergunta! De antemão, posso dizer que ainda tem muita coisa que eu quero fazer, que quero realizar como artista, tanto como roteirista, diretor, ator. Tem muitos lugares que eu quero explorar e habitar em termos de gênero ou possibilidades de personagens. Eu tenho muita vontade de me explorar mais no drama, seja no cinema, na televisão e descobrir mais desse lugar. Além disso, tem um gênero específico que sou muito fã que é o suspense, do thriller. Eu nunca fiz um filme que me desafiasse como ator nesse gênero e tenho esse sonho.
VAM: Vindo de uma família de músicos, a música parece fluir naturalmente em sua vida. Como essa herança musical moldou sua sensibilidade artística e de que forma a música se conecta com sua atuação e seus outros projetos criativos? A música sempre esteve presente na minha vida de forma muito natural, graças à minha família. Cresci cercado por melodias, ritmos e conversas sobre música, o que acabou moldando profundamente minha sensibilidade artística. Isso influenciou minha forma de atuar, dirigir e criar de uma maneira geral.
Além disso, a música me oferece um espaço de liberdade criativa que se conecta com todos os meus outros projetos. Seja compondo, escrevendo roteiros, dirigindo ou atuando, sinto que a musicalidade da narrativa sempre está lá. O som, assim como as palavras, tem o poder de evocar emoções profundas, e essa sinergia entre música e atuação me permite explorar novos caminhos artísticos.
VAM: No reality show “Popstar”, você revelou ao mundo seu talento como cantor e, em seguida, se tornou apresentador. Como foi essa transição para a apresentação, e que lições essa experiência trouxe sobre comunicação e performance? O “Popstar” foi uma das experiências mais lindas que eu já vivi. Eu saí da minha zona de conforto como ator para me encarar como cantor. Além de um desafio, foi um presente enorme. Esse reality foi o empurrão que faltava para acreditar no meu eu músico. Ainda fui convidado a apresentar a temporada seguinte, ao lado de Taís Araújo. Isso foi maravilhoso!
Apresentar um programa trouxe uma nova camada para minha compreensão sobre performance. A responsabilidade de manter o ritmo do show, interagir com os participantes e o público, e, ao mesmo tempo, trazer naturalidade e carisma foi um grande aprendizado. Eu percebi que a apresentação, assim como a atuação, requer uma escuta ativa e uma presença constante, porque você está lidando com muitas variáveis. Foi uma lição que levo pra tudo na vida: no fundo, tudo se trata de estabelecer uma conexão verdadeira.
VAM: O teatro, especialmente em um monólogo intenso como “Invisível”, exige uma entrega emocional profunda. Como você, João, mantém o equilíbrio emocional fora dos palcos, após mergulhar tão intensamente em papéis dramáticos? Eu tento ser um ator que não leva o personagem pra casa, especialmente em um espetáculo teatral que a experiência por si só já é muito visceral. É muito claro o início e o fim do processo, você começa e finaliza a peça. Quando saio de cena e chego no camarim após o espetáculo, já quero entrar em outra energia e ficar leve de novo. Por ser uma peça pesada, tento sempre sair pra conversar, ver pessoas. Ou, se estou sozinho, vou pra casa assistir comédia, dar risada.
O grande exercício do ator é justamente esse mergulho e saber sair dele. Como, através da técnica, nós conseguimos acessar esses lugares emocionais profundos e, ao mesmo tempo, sair deles sem se machucar. Isso é o principal! Pensar a longo prazo na saúde mental e emocional para não criar desgaste, machucados ou traumas. Então, pra mim é técnica, meditação, respiração, concentração, exercícios físicos, ferramentas que eu uso para conseguir entrar e sair do personagem de uma maneira saudável.
VAM: Sua trajetória abrange produções nacionais e internacionais. Quais são as principais diferenças que você sentiu nesses ambientes de trabalho, e como essas experiências contribuíram para seu crescimento como ator e profissional? Trabalhar tanto em produções nacionais quanto internacionais me deu uma perspectiva muito rica sobre o fazer artístico e o funcionamento da indústria. Um ponto importante foi a questão cultural. Em produções internacionais, especialmente quando interpretei em inglês, como “Passaporte para a Liberdade” e na série “Rio Connection”, tive que me adaptar às nuances que influenciam a narrativa e a forma de atuar. Esse exercício de entrar em outra cultura artística me expandiu como ator, me obrigando a repensar técnicas e estilos. E isso foi crucial para contribuir com minha bagagem artística.
VAM: O apoio familiar tem um papel vital em sua vida. De que maneira esse suporte influencia seu processo criativo e sua capacidade de permanecer centrado em uma carreira tão dinâmica e exigente? Cresci em uma família de artistas, então, desde cedo, eles sempre me incentivaram a seguir meus sonhos e explorar a minha criatividade. Esse suporte emocional me permitiu experimentar diversas áreas com confiança. Em um ambiente tão dinâmico e exigente como o da indústria do entretenimento, ter essa rede de apoio é essencial. Minha família são meus críticos e fãs, essa dualidade me ajuda a manter o equilíbrio. Eles me lembram da importância de ser fiel a mim e aos meus valores, o que é crucial em uma carreira em que existem muitas pressões.
VAM: Após uma década de carreira, como você define “sucesso” hoje, e como essa definição se alterou desde o início de sua trajetória? Com tantos projetos à vista e uma carreira tão diversificada, que legado você aspira deixar como artista e ser humano? Após 11 anos de carreira, minha definição de sucesso mudou bastante. Para mim, o sucesso é sobre a capacidade de ser autêntico, de contar histórias que realmente importam e de fazer uma diferença na vida das pessoas. É sobre estar em projetos que ressoam com minhas paixões, que me desafiem, que me ajudem nesse processo de transformação constante.
Quanto ao legado, quero que a minha trajetória inspire outros a se aceitarem como são, a serem ousados em suas escolhas artísticas e a não terem medo de explorar sua vulnerabilidade.
Quiz: Explorando sua Arte e Identidade
1. Qual foi o momento decisivo em sua carreira que mais impactou sua visão artística?
o A) Quando percebi que minha arte tocava as pessoas.
o B) Ao lidar com um papel desafiador e intenso.
o C) No momento em que criei um projeto independente.
2. Qual aspecto da sua identidade artística você considera mais importante?
o A) A pluralidade de funções que desempenho.
o B) Meu estilo pessoal autêntico e agênero.
o C) Minha conexão com a música.
3. Como você lida com a vulnerabilidade em sua arte?
o A) Acredito que ela é fundamental para a empatia.
o B) É um desafio que enfrento ao longo da carreira.
o C) Uso como fonte de inspiração.
4. O que mais te inspira a sair da zona de conforto?
o A) A busca por novos desafios.
o B) A vontade de explorar novos gêneros artísticos.
o C) A influência de minhas raízes musicais.
5. Como você descreveria seu legado?
o A) Um artista que desafiou estigmas e expectativas.
o B) Alguém que promoveu a diversidade na arte.
o C) Um ser humano que sempre se importou com os outros.
EDITORIAL
VAM MAGAZINE
Equipe
Entrevista e curadoria: Antonnio Italiano (@antonnio.italiano)
Direção de Arte: Lucas Rossi (@lucs.rossi)
Produção: ODMGT (@odmgt)
Fotografia: Gabriel Marques (@antropofagia)
Styling: Guilherme Alef (@guilhermealef)
Beauty Artist: Vanessa Sena (@vanvansena)
Produção Executiva: André Faria (@andre.grfst) e Clara Raimondo (@clararaimondo_)
Assessoria de imprensa: @evvacomunicacao
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