Novo filme do Prime Video conta a história do 'serial killer' Francisco de Assis Pereira, que estuprou e matou, várias mulheres no final da década de 1990
Francisco de Assis Pereira é um dos assassinos em série mais famosos do Brasil. Mais conhecido como “O Maníaco do Parque” o cruel criminoso teve recentemente, sua história adaptada para o filme de mesmo nome. É de conhecimento geral, que Francisco passou por avaliação com médico psiquiatra e teve como diagnóstico o Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA). Tal transtorno é usualmente associado à Psicopatia, embora, seja necessário ressaltar, sejam transtornos distintos.
O Transtorno de Personalidade Antissocial descrito pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da American Psychiatric Association apresenta critérios diagnósticos que contemplam de forma predominante comportamentos antissociais e não tanto, aspectos afetivos e interpessoais. Ou seja, o TPA tem como sintomas os comportamentos manifestos da psicopatia, basta pegar o DSM em sua 5ª edição revisada e verificar os sintomas descritos.
A psicopatia é um transtorno de personalidade multicausal que apresenta sintomas referentes, a como sujeitos acometidos por esse transtorno, sentem, pensam e agem. Dessa forma, está mais relacionada a aspectos da personalidade dos indivíduos, do que aspectos comportamentais. Os sintomas desse transtorno são agrupados, de forma mais genérica, em duas facetas diferentes: a afetiva (como psicopatas sentem e se relacionam com as outras pessoas) e a esfera comportamental (que abrange sintomas de violação às regras e normas sociais).
Conforme os sintomas descritos na esfera afetiva indivíduos com o transtorno psicopático são eloquentes, egocêntricos, enganadores e manipuladores, além de não apresentarem remorso ou culpa. Além disso, podem ser descritos como sujeitos sem empatia e com emoções “rasas”. No que se refere à esfera comportamental, psicopatas são impulsivos, irresponsáveis, têm um fraco controle do comportamento, necessidade de excitação, problemas comportamentais precoces e comportamento adulto antissocial.
Porém, apresentar emoções “rasas” não significa que esses indivíduos não sintam nenhuma emoção, conforme descrito pela psicóloga do filme “O maníaco do parque”. A profissional representada pela atriz Mel Lisboa afirma de forma categórica, que psicopatas “não sentem nada”, “não sentem raiva” e ainda, que psicopatas “não demonstram nada”.
A descrição apresentada pela personagem está equivocada. Psicopatas podem apresentar deficiências no processamento de estímulos emocionais e uma situação de interação social, assim, esses indivíduos apresentam limitações em compreender e experimentar determinadas emoções, mas não todas. Diferentes estudos têm evidenciado que psicopatas são menos propensos a vivenciar medo, por exemplo. Por outro lado, as pesquisas demonstram que a raiva é uma emoção extremamente recorrente em psicopatas, principalmente em situações de frustração. Além disso, o desprezo tende a ser bastante frequente nas interações sociais deles.
Portanto, não se engane, indivíduos com psicopatia experimentam as emoções de forma e profundidade distintas de pessoas sem o transtorno, mas ainda assim, não são sujeitos incapazes de sentir qualquer emoção, podendo inclusive sentir ansiedade, mas esse já um tema para uma próxima reportagem.
Fernanda de Vargas
Psicóloga, Perita judicial cadastrada no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), Coordenadora da Medida Socioeducativa de Prestação de Serviços a Comunidade no CEDEDICA-SM. Docente da Pós Graduação em Neurociências e Comportamento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente da Pós Graduação em Avaliação Psicológica e da Pós Graduação em Psicologia Jurídica da Faculdade Volpe Miele (FVM). Docente da Pós Graduação em Criminal Profiling e Psicologia Investigativa da BluEAD. Supervisora de Estágios da Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental da Wainer Psicologia. Doutora em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS e Mestre em Psicologia da Saúde, pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Especialista em Psicologia com ênfase em Saúde Comunitária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Colaboradora do Grupo de Pesquisa: Pesquisa e Avaliação em Alterações da Cognição Social (PAACS) da UFSM. Possui experiência profissional em contextos socioeducativos, prisionais e de vulnerabilidade social. Pesquisa temáticas como: Neurociência Cognitiva, Avaliação de Transtornos da Personalidade, Adolescentes em conflito com a lei.
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