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Vínculos e boas conexões para o dia dos namorados

O consumo atual, a partir de uma perspectiva geral, preenche uma dupla função do ponto de vista do indivíduo: satisfação de necessidades e realização de desejos.


O consumo é governado por representações coletivas, emoções codificadas, sentimentos obrigatórios, sistemas de pensamento e pela ordem cultural que o inventa, permite e sustenta. Contudo, em um curto espaço de tempo, as tecnologias operaram profundas mudanças no modo como os seres humanos se comunicam, se relacionam e praticam os atos da vida, especialmente em relação ao consumo que, progressivamente, se tornou digital. Observa-se, assim, um desenvolvimento de redes e aplicativos que favorecem todos os movimentos de virtualização, independentemente do lugar e da coincidência dos tempos de um ciberespaço, que incentiva e acelera uma nova ordem digital com os produtos, serviços, coisas e pessoas. Será que poderíamos pensar que uma paixão ou simples “match” num aplicativo de paquera seria uma espécie de produto ou consumo do nosso tempo?


Selecionar o próximo “match” pode ser como se estivéssemos comprando algo na Shopee, Amazon ou Mercado Livre? Uma espécie de um grande catálogo de marketplace, no qual apenas o imagético e as informações do produto são levados em consideração.


A impressão é que com tudo isso, pudéssemos um dia escolher e decidir por quem nos apaixonar a partir de uma lista de características apresentadas. Um verdadeiro jogo de acerto e erro na tomada de uma decisão (esse é o melhor produto ou essa é a pessoa certa), sem se implicar com o vínculo, apenas com a conexão.


Talvez, estejamos vivendo uma fantasia diária de que sabemos tudo que queremos, sendo que a maioria não entende muito do seu próprio desejo, pois existe uma espécie de estranhamento constitutivo ou ambivalência dos quereres dentro de nós mesmos. Ou seja: nós nos desconhecemos, o outro nos desconhece e se desconhece, mesmo diante de tantas informações prestadas, imagens fornecidas, pegadas eletrônicas deixadas, bios e likes. Daí, a grande questão: Estamos fazendo apenas conexões e não vínculos? Pois, perdemos muito mais tempo querendo entender ou outro, decifrar a mensagem ou emoji do WhatsApp (confesso que tenho muita dificuldade com isso), saber o porquê de curtir todas as fotos do Instagram e nunca começar uma boa conversa, ao invés de sentir e se abrir ao imponderável, aquilo que nunca fará sentido ao conhecer e querer permanecer com uma pessoa em qualquer tipo de relação. Nós estamos apenas diante de portais de acesso, mas distantes de tudo aquilo que desenvolve laço e sustenta um encontro... Por mais equilíbrio entre consumo, afeto e vínculos a partir de espaços digitais ou analógicos. A realidade nos convoca para o imponderável! Nesse dia dos namorados, como não sou bobo, nem nada, EU ACEITO!

Diógenes Carvalho é ator, advogado e professor universitário. Pós-doutor em Direito e Psicologia, doutor em Psicologia, mestre em Direito, pós graduado em Psicanálise Clínica e tem diploma de Direito Europeu. Psicanalista em formação pelo Instituto Sedes Sapientiae em São Paulo.

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