top of page

Exposição “Olhar Negro, Negro Olhar” celebra a antologia da fotografia negra da Bahia no Centro Cultural Fiesp

A mostra, com curadoria de Bené Fonteles e organização de Marcelo Reis, chega a São Paulo e reúne grandes nomes da fotografia.

Foto: Adenor Gondim — Yaô das Flores, Cachoeira, Bahia
Foto: Adenor Gondim — Yaô das Flores, Cachoeira, Bahia

A partir desta quinta-feira, 13 de novembro, o público poderá conferir, na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, a exposição “Olhar Negro, Negro Olhar — Antologia da Fotografia Negra da Bahia”, um panorama sensível da fotografia produzida no estado.


Com curadoria de Bené Fonteles e pesquisa e organização de Marcelo Reis, a mostra propõe um aprofundamento nas múltiplas camadas de significados sobre a negritude baiana.


A exposição reúne obras de artistas que construíram, ao longo das últimas décadas, um repertório visual sobre o povo e a cultura da Bahia, como Adenor Gondim, Ayrson Heráclito, Bauer Sá, Christian Cravo, Mário Cravo Neto, Miguel Rio Branco, Pierre Verger e Voltaire Fraga, entre outros.


O conjunto de trabalhos cria um diálogo entre diferentes gerações e perspectivas — de fotógrafos de pele retinta, profundamente ligados às tradições afro-brasileiras, e de outros que, mesmo não pertencendo diretamente a esse universo, dedicaram suas lentes a registrar e reverenciar a presença negra na formação cultural e espiritual do estado.

Segundo o fotógrafo, professor e pesquisador Marcelo Reis, organizador da mostra.

“Pensar a fotografia a partir de quem olha e do que é olhado é um exercício essencial para compreendermos como o olhar negro se constitui na arte baiana. Essa antologia propõe uma leitura dessa pluralidade, em que cada imagem é um espelho do pertencimento, da ancestralidade e da resistência.”

Olhar Negro, Negro Olhar” traz 90 obras de artistas de gerações, formações e olhares diversos sobre a Bahia — estado com cerca de 14 milhões de habitantes, dos quais 80% se autodeclaram negros (pretos e pardos), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dados do Censo 2022.

ree

A mostra, que já passou com grande sucesso por Brasília, oferece a oportunidade de se apreciar, por exemplo, fotografias célebres de Pierre Verger (1902–1996) — fotógrafo, etnólogo e antropólogo francês que viveu grande parte de sua vida em Salvador.


Verger produziu uma vasta obra, tanto em imagens quanto em textos, sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, com especial interesse pelo candomblé.

Foto: Pierre Verger
Foto: Pierre Verger

O culto aos orixás está presente na obra de muitos dos fotógrafos, como nas imagens impactantes de Bauer Sá, nascido em 1950, em Salvador, e um dos pioneiros da arte antirracista na Bahia.

Foto: Bauer Sá — Xangô Eye, Salvador, Bahia.
Foto: Bauer Sá — Xangô Eye, Salvador, Bahia.
ree
“Existe nas imagens uma linguagem sintonizada poeticamente com o negro e as divindades africanas”, afirma o artista.
Foto: Helen Salomão - da série Digital na História "Matriarca Helena Salomão", Salvador 2016, em que a artista retrata a sua aó materna.
Foto: Helen Salomão - da série Digital na História "Matriarca Helena Salomão", Salvador 2016, em que a artista retrata a sua aó materna.

A fotógrafa e multiartista soteropolitana Helen Salomão, 30 anos, apresenta trabalhos da série “Digitais na História”, com retratos de sua própria família.

“Meu trabalho traz um olhar feminino, sensibilidade, uma humanização e uma construção em conjunto. Não se trata de um olhar neutro. Considero muito importante a participação da mulher negra numa arte que sempre teve o olhar do homem branco”, ressalta.

A Fotógrafa Andrea Fiamenghi, branca, nascida em São Paulo que durante muitos anos viveu em Salvador e hoje se divide entre a capital baiana e Lisboa, Andrea Fiamenghi , 53 anos, exibe trabalhos que tem como foco rituais religiosos. “Há 22 anos dedico minha pesquisa e meu afeto à cultura afro-brasileira, uma trajetória que nasceu na Fundação Pierre Verger e segue guiada pelo respeito e pela escuta profunda”, ressalta.

Foto: Andrea Fiamenghi -  Obá Xirê Ilê  Axé Opô Aganjú - 2016 Lauro de Freitas, Bahia
Foto: Andrea Fiamenghi -  Obá Xirê Ilê  Axé Opô Aganjú - 2016 Lauro de Freitas, Bahia
“Encontrei na cultura afro-brasileira um espelho de humanidade,  um vínculo que ultrapassa a cor da pele e se sustenta em respeito e entrega.”

De acordo com o curador Bené Fonteles, a proposta de “Olhar Negro, Negro Olhar” é simples e poderosa: “Mostrar como a baianidade pulsa na arte e na vida, e como a fotografia pode ser um espelho da ancestralidade que nos trouxe até aqui”.  Em todas as imagens, para além da Bahia, pulsam histórias de pertencimento, resistência e celebração. 


A exposição reúne 23 artistas visuais de três gerações e pouco mais de 90 fotografias. São eles: Adenor Gondim, Amorin Japa, Andrea Fiamenghi, Arlete Soares, Arthur Seabra, Ayrson Heráclito, Bauer Sá, Christian Cravo, Cristina Cenciarelli, Edgar Azevedo, Emanoel Saravá, Helen Salomão, Hirosuke Kitamura, Ismael Silva, Leila Chandani, Lucas Moreira, Mário Cravo Neto, Miguel Rio Branco, Pierre Verger, Tacun Lecy, Vinicius Xavier, Voltaire Fraga e Zélia Gattai.


Texto de Andréa Dantas e Camila Russi, para a VAM.


bottom of page