O dilema de Maurício Kubrusly frente ao diagnóstico de Demência Fronto Temporal
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O dilema de Maurício Kubrusly frente ao diagnóstico de Demência Fronto Temporal

Quem não se lembra do jeito irreverente de fazer jornalismo de Maurício Kubrusly? Hoje, aos 77 anos, morando no Sul da Bahia, o repórter enfrenta um dilema: conviver com o diagnóstico de Demência Fronto Temporal, uma deficiência que altera a capacidade cognitiva do indivíduo e afeta seu poder de captação e manipulação da comunicação, agindo diretamente na escassez das habilidades cognitivas do ser humano e alterando inclusive o humor.


Essa condição de saúde, interrompe décadas de sucesso na TV brasileira, com sua alegria e improviso ao dar notícia ou contar história no extinto programa “Me leva Brasil". Uma aposentadoria precoce que interrompe a atividade laboral, por conta de um problema de saúde. Situação comum nos dias atuais. Neste caso, existe a deficiência de formulação e compreensão da linguagem e da memória, característica da demência, mostram que se fará necessária a adaptação e ressignificação de toda uma vida.


Assim como Maurício, muitas pessoas, se encontram neste lugar da “parada”, ou do estacionar seu trabalho e vida social, em decorrência dos cuidados consigo mesmo. O grande ponto aqui é cuidar da saúde e, principalmente, não permitir que uma situação como essa afete seu emocional.


Uma rede de apoio em casos como esse, se faz fundamental, para que esse indivíduo que esteve ativo ao longo de toda sua vida, viveu sob a mira de holofotes e mantinha um alinhamento social constante, não entre em um estado depressivo, tornando assim, a demência uma porta aberta para transtornos ou outras neuroses oportunistas.


Toda essa situação hoje vivenciada pelo jornalista, nos faz pensar e refletir que em alguns momentos, nosso corpo pode nos parar. Nossa mente pode nos parar. É preciso ter sabedoria para reconhecer que essa pausa é, extremamente, necessária. Infelizmente, o paciente diagnosticado com essa doença, fica debilitado mentalmente e fisicamente. Perdendo suas funções de linguagem e se torna, de certa forma, dependendo total das pessoas mais próximas.


Sem dúvida, é um tempo de ressignificar nossas forças e perceber que até os fortes precisam parar. São anos de muitos trabalhos à frente das câmeras que tornaram esse jornalista “familiar” no cenário televisivo, hoje, estacionado por uma lesão cerebral que causa um distúrbio de linguagem e cala a “persona” principal.


Mas o grande ponto que deve ser observado é que, os sinais já vinham se manifestando há algum tempo, demonstrando que algo estava fora dos eixos. Com isso, o afastamento de suas atividades se tornou necessário, uma vez que, o esquecimento das falas, os apagões momentâneos e a apatia frente a algumas situações, denunciavam um pedido de socorro.


Diante desta constatação, aproveito para ressaltar a importância de “ouvir” seu corpo. Dar voz à suas dores e aos pequenos sinais de irregularidades, como: dores crônicas, alterações de pele ou físicas inesperadas, dentre outras anormalidades do organismo. Lembrando da máxima psicanalítica de que o corpo fala, certamente, ele pode estar emitindo um alerta para que se tenham mais cuidado com a mente e o físico. Somos as nossas histórias. Somos as nossas dores e alegrias.


Estamos em constante evolução e claro que, a vida imediatista, nem sempre nos deixa perceber que a desaceleração é necessária. Preservar o emocional e valorizar o cuidado com o organismo e o biológico, são regras indispensáveis para que se viva cada vez mais e com maior qualidade de vida.


Enfim, lamentamos a notícia do presente diagnóstico de Maurício Kubrusly. Demência é coisa séria. E fica a tristeza em saber que não teremos mais a alegria e o humor do jornalista em novos programas da TV, por conta de sua condição clínica. O que nos leva a refletir que somos suscetíveis a doenças e que estas precisam ser acompanhadas de perto desde os primeiros sinais de qualquer sintoma.


Afinal, não existe isenção de dor ou invencibilidade para o ser humano. Ainda não chegamos neste estágio. Portanto, a grande lição é viver a cada dia como se fosse o último. Desacelerar. Prestar atenção aos detalhes e aos sinais de desequilíbrio que possam estar sendo emitidos pelo corpo e pela mente, que são fundamentais na construção do bem estar físico e emocional.          

Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista

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