Antonio Saboia abrilhanta as páginas da Revista VAM Magazine com fotos incríveis e uma entrevista super envolvente, mostrando toda a versatilidade de um legítimo ator franco-brasileiro. Nascido na França, filho de mãe francesa e pai maranhense, esse jovem de 36 anos, possui um currículo invejável com obras belíssimas que somam mais de 13 filmes. Entre eles, o “Deserto particular” premiado no 78 Festival de Veneza que trata sobre a afeição masculina no Brasil contemporâneo. Saboia dá vida ao protagonista Daniel.
Sua impecável interpretação no filme “Órbitas da água” lhe rendeu o prêmio de melhor ator. Também autou em “Bacurau”, “Os últimos dias de Gilda”, “O lobo atrás da porta”, “Rotas do ódio” e “Felizes para sempre”.
Quer saber mais sobre esse ator dinâmico, lindo e competente que encanta com sua delicadeza e maestria de atuação? Então, acompanhe a entrevista exclusiva que Antonio Saboia gentilmente nos concedeu e confira também as fotos exclusivas nas páginas desta edição. É de tirar o fôlego!
Assista as respostas de Antonio para o "ping-pong" na live do Instagram VAM Magazine.
Descreva o ser humano Antonio Saboia? Como você se auto define?
Persistente e obcecado com o trabalho e carente de passar tempo de qualidade com as pessoas que amo. Só temos essa vida para realizar nossos sonhos e viver momentos ricos com quem importa. De resto, sou bem caseiro. Gosto de ver um bom filme, ler um bom livro, enfim, amo meu sofa!
Quando você descobriu que ser ator e que atuar era o que você queria para sua vida? E como foi a construção dessa profissão tão bela?
Eu tinha 16 anos, fazia teatro há um ano. Não sabia como abordar uma cena de briga entre uma figura poderosa de uma cidadezinha e sua esposa. Naquela semana passou a trilogia do Poderoso chefão na TV, pirei nos filmes e decidi me inspirar de uma briga entre o Michael e a Kay (no Poderoso Chefão II)
Pela primeira vez mergulhava em uma cena. Foi tão prazeroso e a recepção foi tão boa que pensei “talvez eu faça isso da minha vida”.
Depois fui estudar artes cênicas em Londres onde morei 5 anos. Tive professores incríveis e voltei para o Brasil tentar a minha sorte.
Ralei um bom tempo e em 2013 consegui meu primeiro protagonista na série Beleza S/A idealizada pela Andrea Barata Ribeiro (O2)
Filho de mãe francesa e pai maranhense, como é conviver e como foi crescer em meio a essa mistura de culturas boas?
É um presente ter essa dupla cultura. Abre muito minha visão de mundo e me permite sempre ter uma certa perspectiva sobre o que me rodeia e o meu lugar nisso tudo. Acabei desmitificando muita coisa e essa ideia de que a grama do vizinho é mais verde. Como dizia Tom Jobim, viver no exterior é bom mas é uma merda, viver no Brasil é uma merda mas é bom. Amo os dois países, moro no Brasil onde me sinto mais em casa mas sempre preciso passar um tempo aqui na França, principalmente com as pessoas que amo.
Nessa trilha de sucessos com mais de 13 filmes em seu currículo, o que você descreveria como o maior desafio ao longo de sua jornada até aqui?
O maior desafio é entender que você precisa ser produtor de si mesmo, aceitar e pôr isso em prática! Como você vai se vender depende muito do que você almeja e de como você quer direcionar sua careira. A menos que você tenha nascido em uma família de cineastas não existe outra alternativa a não ser estudar, se interessar pelo meio, saber quem é quem e ficar na cola das pessoas que te interessam sem medo de ser chato ou persistente. Hoje em dia com as redes sociais, você descobre em dois cliques quem vai filmar o que, aonde e quando. Meu pai jornalista e PHD em encher o saco de meio mundo dizia sempre: “ informação é ouro meu filho, corra atrás da informação!”
Qual personagem exigiu mais de você e que também trouxe um maior aprendizado?
Toda personagem trás questionamentos diferentes e acaba fazendo parte da nossa construção pessoal. Tanto o “As Órbitas da Água” quanto o “Deserto Particular” me fizeram mergulhar mais fundo nas complexidades das personagens e seus universos. Mas existe uma questão política muito forte no “Deserto Particular” que define muito a polarização atual no nosso país e a necessidade da troca, da escuta e de questionar de forma profunda nosso prisma sobre as coisas. Pra mensagem ser veiculada como queríamos era fundamental acertar nos tempos das personagens e na construção desse universo. Além da preparação física ter sido puxada. Ganhei 10 kg de músculo e gordura em um pouco mais de 1 mês.
Qual trabalho deixou um gostinho de quero mais? Qual deixou mais saudade?
Gosto muito de fazer o Júlio no “Rotas do Ódio”, é bacana poder voltar para uma personagem e evoluir junto com ela, descobrir coisas novas além de curtir e me divertir muito com a equipe. Mas gostinho de quero mais diria que Bacurau. Foi uma baita experiência fazer esse filme com aquela galera e gostaria de reviver isso novamente.
O que te inspira? Como e onde você se vê daqui a 10 anos?
Determinação, inteligência e bom gosto (risos) Estou sempre atrás de um mentor(a), de uma boa historia e de trocas interessantes.
Meu ator se nutre do meu ser humano e vice versa.
Daqui 10 anos? Dirigindo meus próprios filmes com meus amigos e tomando cerveja com Paul Thomas Anderson e Martin Scorsese (risos)
Quais artistas são seus maiores inspiradores na carreira, na arte? Seus ídolos?
Quem me fez pegar o gosto pela coisa foi Al Pacino, depois De Niro, os filmes do Scorsese, Coppola, Brian de Palma, o cinema gângster dos anos 80/90. Além de Sergio Leone, Kurosawa, entre outros. Hoje sou muito atento ao trabalho de Daniel Day Lewis e Joaquim Phonix, esses caras mergulham fundo mesmo. E claro, a referência mundial e de muitos atores, Marlon Brando.
Em sua fala: “ O ator é protegido por um bom roteiro, um bom diretor e um bom elenco, além de muitas vezes um bom editor. Meu desejo é e sempre foi trabalhar com as melhores equipes em cima das melhores histórias”.
Percebe-se o quanto é apaixonado por seu ofício. Neste sentido, falando em ambições, desejos e sonhos, onde quer chegar e o que ainda falta conquistar? Qual grande sonho você já realizou?
Sou privilegiado por ter trabalhado com os diretores e nos projetos nos quais trabalhei até hoje. Falta conquistar muito ainda além de querer trabalhar com os diretores que me inspiraram a ser ator e os que vão me inspirando na minha jornada. Os melhores projetos, as melhores equipes aqui e fora.
Quando voltei pro Brasil eu tinha esse sonho de trabalhar com o Fernando Meirelles. Nós nos conhecemos quando fiz o “Beleza S/A”.
Ele tinha me visto em um primeiro corte dos episódios da serie e me chamou pra fazer um teste para um Comercial do Boticário.
Eu me tremia todo fingindo estar concentrado mas surtava por dentro « O Meirelles está me dirigindo.
Fizemos esse comercial e depois uma série (Felizes para Sempre). Agora falta fazer um filme juntos.
Fale um pouco sobre o seu personagem Daniel do longa “Deserto particular” que está no 78 Festival de Veneza. Como ele é? E como você conquistou o papel?
Ele faz parte de uma grande porcentagem de pessoas que foram educadas em famílias tradicionais muitas vezes conservadoras e que nunca questionaram sua própria realidade, os valores que lhes foram ensinados, mais por comodismo do que por falta de ferramentas intelectuais. Eles têm crenças calcificadas que nunca evoluíram através de suas próprias experiências e enxergam o mundo através de um prisma emprestado. Na sua maioria podem ser pessoas ignorantes ou mesmo educadas mas que não fazem parte dos fascistas convictos, homofóbicos e racistas raivosos. Ainda dá pra salvar.
Daniel teve uma educação rígida, pai policial e avô militar, perdeu a mãe quando era adolescente, o que desencadeou uma revolta e uma violência muito grande dentro dele. É um cara em busca de afeto.
Fiquei obcecado com essa história depois de ler o roteiro e na empolgação comecei a escrever todas as minhas impressões para a produtora de elenco (Márcia Godinho) e o Aly Muritiba (roteiro e direção). Sem querer eu já estava trabalhando no personagem antes mesmo de conseguir o papel.
Você se considera um homem romântico?
Tenho meus momentos (risos) já tatuei com uma namorada. Mudei de país algumas vezes por conta de paixão e namoro. Gosto de fazer surpresas "fora de época". Muito batido esperar dias dos namorados e aniversário pra presentear alguém, né? Legal é fugir um pouco dos protocolos...
No Festival Cine Jardim temos o filme “As órbitas da água”, uma produção independente, gravada no Maranhão, onde você é protagonista. Como foi a construção e preparação de seu personagem, O Forasteiro?
Um personagem bem pesado esse. Um cara que volta depois de 20 anos para seu vilarejo natal após ter fugido criança por conta de abusos do pai. Ele chega totalmente transformado, carregado pelos seus traumas e todos os vícios das cidades grandes. Foi uma preparação improvisada porque o roteiro final só saiu quando eu cheguei, e que o Fred (Frederico Machado, diretor) deixa muito espaço a ser preenchido pelos atores durante a filmagem.Fui buscar o que havia de pior no ser humano…
Lembro uma noite de voltar pro hotel depois de 2 semanas de gravação sentar na beira da cama e ter um principio de ataque de ansiedade. Queria sair daquele pesadelo. Foi uma experiência difícil mas importante na minha construção como ator, e que, de certa forma, me preparou para os trabalhos que vieram depois.
E sobre vida pessoal, como anda o coração e a vida em si?
A vida tem sido mais doce por conta do tempo aqui com a família, os amigos e do Festival de Veneza . Mas foram 2 anos bem difíceis. Além da pandemia que nos privou de muitos abraços e beijos, perdi meu pai ano passado. Então, estou tratando o coração com carinho no momento.
Antes de se entregar ao cinema e ao mundo das artes, quais outros trabalhos já desempenhou?
Eu faço isso desde de muito cedo mas já trabalhei em feira vendendo couro. Adorava interpretar essa personagem, inventava mil argumentos (imaginários) pra vender as peças. O pessoal se empolgava e saia comprando tudo(rs).
Em relação a moda, você acompanha ou segue tendências?
Não entendo nada de moda. Tem coisas que gosto e outras nem tanto. Tento tomar cuidado para não usar coisas que considero bonitas mas que não combinam comigo.
Conte uma curiosidade ou algum episódio engraçado ou dramático de bastidores de seus trabalhos já realizados.
Lembro de um dia com a Caroline Abras no “Mecanismo” em que que a gente não conseguia se olhar sem cair na gargalhada. Demoramos mais de 1 hora para entregar 1 take decente e olha que era uma cena super dramática. Ofereceram água, café, pausa, tudo! Não adiantava, a gente cruzava o olhar depois do "ação!" e era gargalhada certa. Fizemos a cena olhando o nariz um do outro (rs).
Como você cuida da mente e quais suas dicas para um relaxamento perfeito e o cultivo da paz de espírito?
Passo a vida alinhando meus pensamentos. Fazendo resumos das situações, dos momentos e tentando achar soluções para as minhas questões. Acho que quanto mais próximo da nossa verdade e quanto mais honesto a gente for consigo mesmo, mais a vida tende a se alinhar e a fluir.
Preciso suar também, atividade física constante, minha terapia! Além de terapia em si da qual tenho fugido esses tempos mas pra qual vou voltar quando chegar no Brasil. Acho que é algo que todo mundo deveria experimentar uma vez na vida.
Deixe um Spoiler para os fãs de novos projetos e próximos trabalhos.
Não é Marvel nem DC, mas vem filme de super herói aí (rs)
Convidada para a entrevista: Dra. Andréa Ladislau para a VAM Magazine.
Assessoria Antonio Saboia: Equipe D Comunicação.
Fotos: Olivier Desautel
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