Apresentar uma entrevista sobre corpo e mente é uma ótima maneira de fornecer percepções e informações valiosas aos leitores. É importante priorizar a saúde física e mental. Fugindo da tradicionalidade, o psicanalista e psicólogo Matheus Vaz fala sobre autenticidade e bem-estar, no setting terapêutico e na criação de conteúdo.
Para a entrevista com Matheus criamos uma ação para que os seguidores e pacientes do psicologo enviassem perguntas no story, selecionamos muitas que são super importantes! Não deixe se seguir a @vammagazine e acesse tudo abaixo!
Entrevista
1) Matheus, como separar o profissional do Instagram, do profissional de quem cuida dos pacientes?
São funções diferentes. O Matheus do Instagram é criador de conteúdo, que fala também de saúde mental, mas que mostra bastante coisa de si mesmo e influência dentro do que acredita. O Matheus psicólogo, dentro do setting terapêutico, atua com técnicas e com escuta ativa, ali o protagonismo é exclusivo do paciente e minhas intervenções são pontuais e exclusivas daquele caso. 2) @ALESSANDRANALVES: Quando foi que você teve esse “estalo” em apresentar sua carreira e seus pensamentos de forma mais humana com essa veia de humor? Como foi essa sensação de sair do óbvio? Foi durante a pandemia do COVID 19 que me vi na necessidade de sair da clínica presencial e me inserir no atendimento online, porém ao observar em volta, notei que precisava de algum diferencial. Desde sempre, tive essa necessidade de colocar minha identidade naquilo que eu me propunha a fazer. Examinei em mim quais as características principais que eu tinha e busquei a melhor maneira de usar isso ao meu favor. Juntei meus conhecimentos psicológicos, com meus conhecimentos de atuação em teatro, tv e cinema. Entendí qual era o público que eu almejava alcançar e atualizei a minha fala para que fosse mais bem compreendida por ele. E o resultado veio a médio e longo prazo. Foi e é muito satisfatório. 3) @SAMANTHASGOMES_: Quais suas maiores inspirações para criação de conteúdo?
Uma coisa que sempre procurei fazer foi buscar para além do meu nicho profissional inspirações e perfis compatíveis e que se conectavam comigo de alguma forma. E isso vai desde olhar alguns grupos de pessoas no meu convivo pessoal, como analisar a ascendência e empreendedorismo de grandes nomes. Acredito que todo mundo pode nos acrescentar em algum aspecto, mesmo que seja um exemplo do que não seguir. Por isso a importância de saber filtrar o conteúdo que se recebe.
4) @SAMANTHASGOMES_: Quem você almeja se tornar?
Procuro me tornar ainda mais eu. Hoje tenho minha individualidade bem marcada. Mas como acredito que estamos em constante aprimoramento, cada dia descubro um pouco mais de tudo que quero e posso me tornar. Não acho que precisamos ser incrível como alguém. Podemos ser incríveis como nós mesmos. 5) @LUNAKAAPORA: Você faz terapia?
Faço sim! Acredito ser extremamente fundamental. Todo mundo tem alguma questão a ser tratada. Inclusive, não é porque eu trabalho com saúde mental, que estaria isento de também ter problemas no mesmo setor, né? (Risos)
6) @MERMAID_ZUMBIE: Como é para você lidar com a concorrência?
Não lido. Entendo que cada pessoa executa seu trabalho da sua forma, logo, é natural que as pessoas busquem na contratação, identificação pessoal, então é natural que cada pessoa atinja seu público específico.
Costumo dizer que: Tudo que você dá atenção, cresce! Então se a sua atenção está voltada ao outro, é ele que vai aparentar ser cada vez maior, se tua atenção está voltada para você, para seus objetivos pessoais e para seu próprio desenvolvimento, é ele que irá progredir.
Muita gente pensa que o mercado de trabalho e até mesmo a vida, é uma grande competição, e que para evoluir a si mesmo, o caminho é atacar o “concorrente”.
Porém, o tempo que se perde para diminuir ou deslegitimar o trabalho de outra pessoa, é um tempo que jamais voltará positivamente para ti.
O mercado é gigantesco, tem espaço pra todo mundo. Não somos rivais. Podemos inclusive aprender mais uns com os outros.
Terão pessoas que não se identificarão com o psicanalista que faz vídeo rindo, e dançando no Instagram, por exemplo. Já outras, irão procurá-lo justamente por esse motivo.
7) @NAANDAAMENDESS: Você sofre/já sofreu julgamentos de pacientes ou colegas de trabalho por ser ativo nas redes sociais?
Eu parto do princípio que, o julgamento é algo que sempre estaremos enfrentando, em qualquer circunstância da vida. As pessoas falam, julgam e deduzem qualquer tipo de comportamento, independente se estamos falando da pessoa mais comportada e introvertida ou da mais despojada e falante de um grupo. Se não é possível controlar o que pensam as outras pessoas sobre nós, podemos então mudar a maneira como recebemos isso.
Não existe regra. Existe profissionalismo e resultado. Quando decidi trabalhar com saúde mental, grandes foram os questionamentos. Muitos criaram dentro da própria cabeça uma imagem estereotipada e quase petrificada dos profissionais de cada área. “Você não pode ser assim”, “Você não pode usar isso”, “Você não deveria postar essa foto”, “Você não deveria ter tantas tatuagens”, “Os outros não precisam saber que você é gay”. O que todo mundo esquece é que uma boa atuação não é como uma receita de bolo, imutável para que dê certo. Somos livres para sermos novos, diferentes e únicos. Nós somos a geração que revoluciona, todo dia, nesse lance de aspecto físico. A gente segue mostrando que capacitação e competência nada tem a ver com a imagem externa que o outro vê; E tanto quanto isso, eu amo poder me apresentar como sou aos meus pacientes. Gosto dessa sensação de ser livre, principalmente em meu ofício. Gosto de que todos eles saibam que, assim como eles, sou um cara comum, humano, que sente, que ri, que chora, que namora, que gosta de sair e ver os amigos para tomar uma(...) Precisamos (des)construir essa imagem do terapeuta quase que robótico. A transparência deixa tudo mais aberto ao esclarecimento. E de quebra, faz com que eu me sinta vivo, pelo simples fato de entender, finalmente, que a gente pode sim ser quem a gente é e executar um bom trabalho sendo assim.
Hoje, a grande maioria dos meus pacientes, quando chegam para mim, dizem que foi justamente por autenticidade que faço questão de mostrar, que os influenciaram a buscar o acompanhamento comigo.
8) E sobre o preconceito racial, no trabalho que faz, já foi um problema para você?
Sempre é, né?! Infelizmente o racismo é algo que está impregnado na nossa sociedade como um todo e ainda existem muitas limitações que pessoas pretas enfrentam apenas por serem pretas. Assim como a homofobia. Perceber que teremos que dar cinquenta passos para chegar onde uma pessoa branca chegaria dando apenas um é bem desestimulante as vezes, mas me faz querer reforçar cada vez mais que nenhuma dessas características influenciam no trabalho prestado. E qualquer tipo de preconceito precisa cada vez mais permanecer apenas na (triste) história.
9) @HENRIQUE_MUSICAOFICIAL: Qual foi sua maior conquista e decepção? Qual lição tirou disso tudo?
Minha maior conquista, sem dúvidas foi ter sido abraçado tão bem pelas pessoas. Ser reconhecido pelo trabalho que exerço e conseguir inspirar e alcançar gente de todo o mundo. Diariamente recebo feedbacks de como fiz/faço alguma diferença na vida de alguém, inclusive para pessoas que estão iniciando na caminhada profissional e isso é extremamente gratificante.
Minha maior decepção foi perceber que muitas vezes esse reconhecimento só virá de fora. Algumas pessoas próximas acabam infelizmente entrando num lugar de comparação e promovendo somente desestímulos quando percebem que o outro pode ir mais além. Mas aprendi a lidar com a situação e não permiti que isso me paralisasse de maneira alguma.
10) @PGGANGEL: Como faz para não se envolver emocionalmente com os problemas de seus pacientes?
Procurando entender que naquele momento, o protagonismo do setting terapêutico é dele e que ali o lugar que ele pode falar sem ser julgado ou apontado de alguma maneira. Entendendo que trata-se de um individuo contando seu ponto de vista da história que vivenciou. Utilizando as técnicas psicológicas de neutralidade e não permitindo que a emoção transcenda a razão e a análise do que está sendo observado. É importante pro desenvolvimento do paciente essa espécie de “distanciamento” nesse sentido, justamente para que juntos possamos pensar em alternativas práticas.
11) Você fala muito sobre relacionamentos, após um término, seja de amizade ou de uma relação amorosa, como fazer o exercício do perdão? Existem situações que não precisamos perdoar?
Costumo dizer que não é ingrediente de bolo e não tem receita pronta, o processo de superação de cada um é totalmente particular. É natural que após o rompimento de algumas relações, as pessoas queiram usar os mesmos artifícios que alguém já utilizou e que deu certo para superar um término ou afastamento(de qualquer tipo de relação que seja). “Perdoar ou seguir em frente sem esse perdão?” “Marcar um encontro pessoalmente para ter uma conversa esclarecedora?” “Continuar assistindo os stories?” “Bloquear, silenciar ou continuar vendo tudo para desapegar mais rápido e se tornar indiferente?” Bom… DEPENDE! Depende de você! De como reagirá a tudo isso. Depende de como(se auto conhecendo) você entende que funcionará melhor. Depende se o bloqueio é para que o outro veja e venha atrás de ti ou pelo símbolo de autocuidado com você mesma. Depende se essa “conversa esclarecedora” é realmente para esclarecer algo ou se é para ter uma recaída e se apegar minimamente ao fato de que pode ser que essa história não tenha chegado ao fim de verdade. Depende se você não estará usando de artifícios para se enganar e se martirizando com algo que você já sabe que não funciona mais tão bem como já funcionou um dia. Depende… depende se perdão é real, ou se você só quer o dar para que os outros vejam que(apesar de tudo) você é uma “pessoa boa” e de “coração nobre”. Vale mais seu equilíbrio emocional e seu estado de consciência tranquilo do que a reputação que as pessoas tem a seu respeito. Sua consciência é a verdadeira realidade de quem você é… e o que os outros pensam são só possibilidades. Possibilidades essas que nunca ficarão totalmente dentro do seu controle. As pessoas podem(e vão) pensar o que quiserem sobre você. A única coisa que você pode mudar, é como você reage à isso. Então… afinal, o que é melhor? Só você vai saber e claro… decidir. 12) Colapso emocional, depois de um diagnóstico, como lidar? Com terapia! Hahaha, procurando entender quais as causas que o levaram a chegar nesse estado de emoções acerbadas. Lembrando que um diagnóstico não lhe definirá. Sua identidade é muito mais que isso. Claro que, às vezes é totalmente necessário tomar conhecimento e entender a importância dele. Ele pode auxiliar na condução de caso e fazer com que o tratamento em si seja mais produtivo e eficaz, porém se prender aos supostos sintomas e estereótipos que podem vir(ou não) a aparecerem é de caráter extremamente limitante e precisa de atenção. As singularidades e subjetividades do indivíduo, transcendem a limitação diagnóstica. 13) Como saber se preciso iniciar o processo terapêutico? Quanto tempo é necessário permanecer na terapia?
Depende. Cada caso é muito específico. Ditar um prazo pode ser uma promessa vazia. Muitas vezes durante o processo terapêutico a demanda inicial (que fez a pessoa buscar atendimento) muda por completo e o paciente começa a perceber que o resultado do comportamento atual é a história de muitas outras questões mais profundas.
14) No começo do seu trabalho sabia onde queria chegar ou foi uma surpresa boa?
Segue sendo uma boa surpresa. Todos os dias um pouco mais, todos os dias de um jeito novo.
15) Para finalizamos, qual conselho deixaria para quem está começando também a investir em um novo projeto ou nas redes sociais? Não tenha receio de ousar. O que é diferente causa estranheza no início, mas naturalmente aproxima quem se identifica. Todos grandes passos que eu dei até aqui, foram antecipados pelo medo. Enfrenta-lo poderá ser o medidor entre conseguir ou não o que se almeja.
Editorial
Fotos: Vinícius Mochizuki
Editor Chefe: Antonnio Italiano
Edição de moda: Alê Duprat
Styling: Kadu Nunnes
Assessoria de imprensa: Equipe D Comunicação
Matheus Vaz: Começou o atendimento psicanalítico há cerca de 3 anos atrás, através do atendimento presencial. Na época não era tão comum como é agora o acompanhamento psicológico online. Com menos de 3 meses de atendimento presencial, foi informado da necessidade de pausar os trabalhos por conta da pandemia do COVID 19.
'Assim como muitos, fui pego de surpresa pela notícia e me vi na obrigação de pensar em alguma forma de dar continuidade ao meu trabalho. Comecei a princípio contratando uma agência de marketing digital para cuidar da rede social que havia acabado de criar, mas percebi uma certa uniformidade no que era publicado e entendi que precisava me reinventar de alguma outra forma. Foi então que comecei a atrelar o humor e minha interpretação como ator ao conteúdo profissional e o resultado esperado começou a surgir.
Comecei a receber feedbacks de pessoas de outros estados e países e a motivação tomou conta. Iniciei a mesclagem de conteúdos psicológicos, piadas, linguagem informal e textos reflexivos em uma mesma postagem. Criando assim uma conexão direta com meus seguidores que foram crescendo e se acostumando com minha maneira de trabalhar." - conta o profissional. Para acompanhar Matheus, já siga-o no Instagram! (@matheusvazf)
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